Fernanda Domingues
Aos cinquenta e quatro anos, o pastor Sóstenes Apolos da Silva é o presidente da Igreja Assembleia de Deus do Plano Piloto desde 1987. Com cerca de mil e quatrocentos membros na sede, vinte e uma congregações dentro e fora do Distrito Federal, a Igreja do Novo Dia também apoia templos no Uruguai, Portugal, Espanha, Argentina e Estados Unidos. Para manter a organização, esse baiano de Feira de Santana montou uma equipe formada por um verdadeiro “exército”: são pastores, obreiros, evangelistas, diáconos, além dos fiéis voluntários. Só aqui no Brasil, são mais de setenta igrejas oriundas direta ou indiretamente da igreja sede.
Aos que lhe perguntam se, ser pastor é missão ou profissão, Apolos tem a resposta na ponta da língua: “O Senhor lhe dá a unção para ser pastor”. Você é pastor, se ele não der, não adianta. Você não vai ter. Para mim é uma missão, não profissão. E se escolher como uma mera profissão, cedo ou tarde a pessoa vai dar, como você diria, com os burros n’água, disse ele com bom humor, que também o caracteriza.
Antes mesmo de aprender a ler e escrever, Apolos recebeu como primeiras orientações às palavras do Evangelho. Nascido em lar evangélico, logo cedo sentiu a vocação, pois o acompanhava o pai Manoel Joaquim, também pastor, que assumia os trabalhos da igreja como missão e paralelamente aprendia com a mãe Nilza Silva, professora da Escola Dominical, lições de paciência e dedicação. Homem de fé, na adolescência descobriu que também estava destinado a seguir os passos dos pais, em seguida conquistou o amor e a compreensão de Heronildes Silva da Mata, com quem está casado há vinte e nove anos, e teve três filhos, Hadman Daniel, Habner Lemuel e Misael Hermom.
Estudioso contumaz, o pastor não se satisfez em concluir o curso de Teologia, da Escola preparatória de Obreiros Evangélicos (EPOE), graduou-se também em Engenharia Agronômica pela Universidade de Brasília (Unb), depois fez mestrado em Ciências da Informática pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro. Apesar da vida atribulada, ele consegue tempo para o lazer. Até nesses raros momentos, ele busca o conhecimento: gosta de ler. Não é à toa que publicou sete livros, entre eles “Novo Dia” e “Berseba”.
O ano ainda não acabou, mas o pastor tem vários planos para 2004 – todos bem desafiadores. Ele quer começar a construção de um templo para três mil pessoas, para evitar o que hoje é uma necessidade: a realização de duas escolas dominicais, uma Às 8h e outra às 11h, com um único culto matinal às 9h30, para comportar o número de frequentadores. Os cultos noturnos também são divididos em dois, um às 17h30 e outro às 19h30. Em meio à correria do dia-a-dia, o pastor recebeu a equipe do jornal Novo Dia e falou sobre seus dias de angústia e aflição e avaliou o papel do cristão na política. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Apolos – É um peso de responsabilidade porque eu sei que uma atitude errada minha pode afetar muitas pessoas, vidas até que eu nem conheço. Por outro lado, isso realmente me ajuda a ser mais cuidadoso e mais vigilante. Isso me ajuda a evitar a perdição eterna e perder a comunhão com Deus, qualquer coisa desse tipo.
Apolos- Eu creio que a minha experiência no Evangelho me ajuda muito. A lembrança, de outras situações similares, e a certeza de que assim como Deus me socorreu naquelas situações, eu tenho certeza que essas situações vão terminar bem. Nunca aconteceu não me lembro pelo menos, de ter deixado de ministrar em função de angústia ou problema pessoal. Normalmente o que tem acontecido comigo é sempre a manifestação da misericórdia de Deus. Às vezes é um louvor que a igreja canta, é uma palavra que alguém diz sem saber que está falando comigo, um testemunho ou coisa assim. Deus fala comigo às vezes numa palavra profética, sabe. Então muitas vezes Deus me dá força quando eu não tenho nenhuma. Ele usa alguém para me ministrar e me tirar do sufoco.
Apolos – Para mim, ser pastor é, acima de tudo, uma missão. Não basta querer ser pastor. É preciso ter realmente chamado de Deus. É o que a Bíblia diz a respeito de Jesus, que Ele desceu às partes mais baixas da terra, depois subiu ao alto, levou cativo ao cativeiro e deu dons aos homens. Em Efésios, capítulo 4, o apóstolo Paulo diz: “Ele mesmo deu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, outros para ensinadores”. Então, se o Senhor lhe dá unção para ser pastor, você e pastor. Se Ele não der, não adianta. Você não vai ter. para mim é uma missão, não é profissão. E se escolher como uma mera profissão, cedo ou tarde, a pessoa vai dar, como você diria, com os burros n’água.
Apolos – É muito positivo que o Evangelho seja anunciado o máximo possível. Só há uma força capaz de deter a ação do maligno nos nossos dias: a do Evangelho. O apóstolo Paulo nos diz que havia pessoas que pregavam o Evangelho para fazer raiva nele, mas o que importa? O que importa é que, por inveja, contenda, ou qual for o motivo, o Evangelho seja pregado. Então eu desaprovo quem prega como um negócio, mas vejo que Deus, apesar disso, transforma o mal em bem, no sentido de que o Evangelho está sendo anunciado. Aquele sujeito que às vezes estava pensando só em ganhar dinheiro, Deus acaba usando para levar alguém a conhecer Jesus.
Apolos – Não. Quando eu vim a ser ordenado pastor, eu já tinha quatro anos de casado. Eu era líder de mocidade quando encontrei minha esposa e, ela, vice-líder. Foi isso que nos aproximou. Então nós sempre trabalhamos no Evangelho. Nossos filhos nasceram nesse ambiente e, mesmo sem eu ser pastor, eles sempre me viram pregando, ensinando, liderando. É claro que não deixa de angustiar, de haver uma cobrança maior sobre eles. Meus filhos, graças a Deus, foram ensinados a lidar com equilíbrio em relação a essa questão. Eles sabem que tem que fazer as coisas certas, não por serem filhos de pastor, mas por serem cristãos.
Apolos – Eu creio que os cristãos devem ser cristãos em todos os setores da sociedade. Eu só acho que não podemos é misturar as coisas. Não vamos fazer das igrejas escritórios políticos. Precisamos ter cuidado para não confiar mais nos homens do que me Deus, para não fazer o que Paulo nos recomenda a não fazer, que é participar dos pecados alheios. Nós não podemos dar carta branca para ninguém errar no exercício da política. É poder, nós estamos lidando com poder. Poder político, poder sobre as pessoas, sobre as cidades. Então isso tem seus perigos e nós líderes, nós evangélicos em geral, precisamos ter cuidado para não nos atrapalharmos aí.
Apolos – Não, eu nunca pensei em ser ou ocupar algum cargo político e, realmente, só se eu algum dia vier a me aposentar como pastor e não tiver outra coisa para fazer (risos).