I. Uma denominação que parece não estar ainda bem consolidada
1. Esclarecimentos
1.1 Temos ainda algumas divergências doutrinárias internas. Exemplos: ordenanças versus sacramentos; o papel da mulher na igreja; obras versus graça;
1.2 Governo da igreja local: algumas adotam o sistema episcopal (o pastor decide sozinho ou, no máximo, com a ajuda dos obreiros), outras o sistema misto (obreiros assessoram, assembleia decide);
1.3 Organização do corpo de obreiros: umas não reconhecem a existência de presbíteros, outros reconhecem. Em algumas a ocupação do cargo de diácono é por tempo determinado, noutras por tempo indeterminado. O mesmo se aplica ao cargo de evangelista;
1.4 Liturgia: umas aceitam o louvor com palmas, outras não aceitam. Idem com respeito ao uso de certos instrumentos musicais, como bateria, tambores, etc;
1.5 Usos e costumes: umas são mais exigentes outras menos. Umas aceitam coisas que outras abominam, como por exemplo, o uso do cabelo feminino preso;
1.6 Há mais de uma liderança a nível nacional: convenção geral das assembleias de Deus no Brasil, Convenção Nacional de Ministros (madureira) e convenção geral das assembleias de Deus do Brasil.
2. Antecedentes históricos
2.1 As Assembleias de Deus não são resultado da deliberação de uma pessoa ou de um grupo para fundar uma denominação. Elas surgiram como resultado do avivamento espiritual que ocorreu a partir do final do século XX. Seus primeiros líderes foram oriundos das denominações evangélicas já existentes. Cada um trouxe para o movimento a formação que teve na sua denominação. Referências bíblicas: AT 1:8; Jl 2:28.
2.2 As igrejas evangélicas na Europa e nos Estados Unidos, no início do Secúlo XX, estavam experimentando o avivamento espiritual quase que simultaneamente a nós. Assim, não dispunham de obreiros para enviar para o Brasil. Obreiros tiveram que surgir e ser preparados aqui mesmo. Isto é altamente positiv, mas tem suas consequências. Uma consequência: alguns “ranços” do Catolicismo Romano. Outra: forte influencia da cultura regional. E mais outra: forte herança dos primeiros líderes regionais. Referências bíblicas: AT 20.17, Tt 1.5, III Jo 9.
Obs. O próprio texto bíblico sofreu influência, no estilo da escrita, da formação e temperamento de cada escritos (Sl 23, Am 7.14, 4.1, Tg 4.4, I Jo 2.1);
2.3 Os pioneiros se esforçam muito para manter a unidade doutrinária. As convenções de pastores eram frequentes e muito bem assistidas. As igrejas de maior influência e tamanho realizavam extensas escolas bíblicas que também eram bem frequentadas. Nestes eventos havia a participação de grandes pregadores e ensinadores oriundos dos Estados Unidos e da Europa. Daí, nossas divergências doutrinárias e de outras naturezas são serem tão expressivas se comparadas com a extensão da obra e da distância temporal de nossa fundação. Referências bíblicas: atos capítulos 15; Gl 1.18.
II. Ênfase na pessoa do Espírito Santo e na atualidade de suas operações
1. Antecedentes históricos
1.1 Gunnar Vingren e Daniel Berg eram de origem batista tradicional. Receberam de bom grado o avivamento espiritual que surgiu no Norte da Europa e nos Estados Unidos no início do Século XX. Daniel Berg, na Suécia, e Gunnar Vingren, nos Estados Unidos, receberam o batismo com o Espírito Santo, falando em línguas sobrenaturais;
1.2 A vinda dos pioneiros para o Brasil foi resultado do recebimento da plenitude do Espírito Santo e foi caracterizada pela manifestação de vários milagres, inclusive profecias impressionantes;
1.3 Por suas convicções acerca do Espírito Santo, os pioneiros tiveram problemas com crentes tradicionais, nos Estados Unidos e no Brasil. A igreja que eles fundaram no Brasil foi perseguida, durante muito tempo, pelas outras denominações evangélicas, além de enfrentar a dura oposição do Catolicismo Romano;
1.4 O apego à Palavra de Deus é outra característica das Assembleias de Deus, também resultante da ação do Espírito Santo entre nós (ver próximo estudo). Este fato, aliado à nossa inigualável experiência com o assunto, nos dá autoridade para recusarmos certas inovações que têm surgido ultimamente (ver o tópico nº IV).
2. Nossas crenças sobre a ação do Espírito Santo na atualidade
2.1 Após a volta de Jesus para o céu, o Espírito Santo veio para ficar com a Igreja, não apenas no 1º Século, mas para sempre – Jo 14.16,17, 26; 15.26; 16.13;
2.2 O departamento do Espírito Santo, ocorrido no dia de Pentecostes, foi o início do cumprimento da promessa deita para “os últimos dias” – At 1.8; 2.1-4, 14.21;
2.3 Os relatos de Atos dos Apóstolos e os ensinos das Epístolas mostram como as manifestações do Espírito Santo ocorrem na igreja e qual deve ser a nossa postura diante delas – I Co 12.7-11; 14.1-33.
III. Seu apego à palavra de Deus
1. Antecedentes históricos
1.1 Gunnar Vingren, um dos fundadores, era formado em teologia e pastor batista. Foi batizado com o Espírito Santo em uma conferência realizada na Primeira Igreja Batista de Chicago. Sempre usou a Bíblia em suas argumentações no púlpito, nas casas e em todos os lugares.
1.2 Daniel Berg, outro fundador, apesar de ser um pregador leigo, sempre demonstrou amor pela Bíblia e profundo conhecimento dela. A exemplo do que fazia Gunnar Vingren, seu companheiro, ao expor sua crença no batismo com o Espírito Santo e na cura divina fazia-o com argumentos bíblicos. Uma das marcas mais visíveis do ministério de Daniel Berg foi o trabalho de colportagem (venda de Bíblias e novos testamentos de casa em casa). Ele andou a pé milhares de quilômetros realizando este trabalho. Provavelmente vem daqui o nosso hábito de consagrar um obreiro primeiro a evangelista e depois a pastor;
1.3 Consolidando o que foi dito nos tópicos anteriores: Gunnar Vingren era um pregador eloquente que proferia sermões impregnados de citações bíblicas. Daniel Berg fazia o trabalho corpo a corpo sempre com a Bíblia na mão (e no coração, claro!);
1.4 Ao estabelecer igrejas em várias capitais e nas cidades do interior, os pioneiros primaram pela boa formação bíblica dos novos obreiros. Periodicamente realizavam escolas Bíblicas às quais acorriam líderes de várias partes do Brasil;
1.5 Os crentes das Assembleias de Deus sempre tiveram muito apoio à Bíblia. Muitos aprenderam a ler lendo-a. mesmo os que permaneceram analfabetos eram capazes de citar muitas passagens bíblicas de cor. Nunca um crente ao visitar outro, deixava de ler a Bíblia antes de sair. As cartas que eles escreviam uns aos outros sempre começavam recomendando uma passagem bíblica “para meditação”;
1.6 Os hinos cantados pelos assembleianos sempre se referiam a uma ou mais passagens bíblicas, geralmente de cunho doutrinário (o batismo com o Espírito Santo, a pessoa de Jesus, a esperança futura, etc). veja-se a atual versão da Harpa Cristã;
1.7 As escolas Bíblicas dominicais. Conquanto tenham sido trazidas para o Brasil pelos irmãos congregacionais, encontraram terreno fértil nas Assembleias de Deus.
2. Fundamentos básicos
2.1 A essencialidade da Palavra de Deus – Rm 10.17; Tg 1.19-21;
2.2 A autoridade da Palavra – Is 8.19,20; Mt 4.1-10; Sl 119.9;
2.3 A confiabilidade da Palavra – Sl 119.89; Sl 119.96; Mt 24.35; Jo 5.39;
2.4 A utilidade da Palavra – Sl 19.7; Sl 119.105; Jr 15.16;
2.5 Nosso dever para com a Palavra – Dt 6.6-9; Mt 7.24-27; II Tm 2.15; Ap 22.18,19.
IV. Liderança exercida, quase exclusivamente, por leigos.
1. Antecedentes históricos
1.1 Reação ao tecnicismo dos líderes das outras denominações à época – Am 7.14,15;
1.2 Movimento começando “do zero” – falta de escolas teológicas – II Re 6.1-3;
1.3 Deficiência amenizada pela realização de Escolas Bíblicas para obreiros e, posteriormente, escola Bíblica dominical.
2. Consequências negativas
2.1 Alguns erros teológicos aceitos de maneira generalizada (Ex: na eclesiologia, o exclusivismo denominacional) – Jo 17.20, 21;
2.2 Alguns erros teológicos aceitos de maneira mais ou menos isolada (ex: transubstanciação);
3. Consequências positivas
3.1 Rápido crescimento pela disponibilidade de líderes, ainda que limitados conhecimento – Tt 1.5;
3.2 Idem, pela identificação das populações com os líderes (gente de casa, do mesmo nível);
3.3 Possibilidade de crescimento espiritual e treinamento de pessoas de ambos os sexos, de todas as idades, camadas sociais e níveis de instrução;
3.4 Até em consequência do que foi apontado no item 3.3, ascensão social facilitada aos crentes – Dn 1.19,20.
V. Grande incentivo ao evangelismo
1. O fator fundamental
A vinda dos pioneiros foi consequência da “redescoberta” do Espírito Santo na Europa e nos EUA (ver seção II). Vieram impulsionados pelo Espírito Santo (At 1:8), aqui continuaram movidos por Ele, formaram discípulos com a mesma visão e influenciaram muitas igrejas tradicionais;
2. Antecedentes históricos e fundamentos bíblicos
2.1 Os pioneiros tinham uma sede imensa de evangelizar. Daniel Berg, por exemplo, andava centenas de quilômetros a pé, evangelizando.
2.2 Antes de serem investidos na condição de pastores, os obreiros tinham que cumprir uma tarefa de evangelização. Na fase de transição, eles eram chamados de “evangelistas”;
2.3 Em qualquer cidade, quando uma primeira família abraçava a fé, sua residência se tornava um “ponto de pregação”. Mais tarde, alugava-se ou adquiria-se um imóvel para uso exclusivo do que já era uma “congregação”. As congregações, por sua vez, geravam (e ainda geram), novos pontos de pregação e novas congregações;
2.4 Tendo-se iniciado no Brasil, quando a maioria da população vivia no campo, a ação evangelizadora das Assembleias de deus foi muito forte também nas zonas rurais. Aí, o estabelecimento de igrejas nos lares e o surgimento de líderes locais são mais intensos;
2.5 Por causa da ênfase da pessoa do Espírito Santo (ver seção II) e do apego à palavra de Deus (seção III), a ênfase na evangelização de suas cidades. Há evangelismo nas praças, feiras livres, casas, escolas, etc. isto tem sido também, uma grande escola de pregadores;
2.6 A falta de batistérios nos templos obriga a realização de batismos nos rios das cidades. Os crentes vão em passeatas pelas ruas, com banda de música e tudo o que podem.
2.7 Referências bíblicas: Mt 9.35; At 15.36; Tt 1.5;
3. As “congregações” das assembleias de Deus
3.1 É um meio muito eficiente, talvez o mais eficiente, de expandir o Evangelho (Mt 28.19,20);
3.2 Elas costumam consumir uma parcela considerável de recursos das “igrejas mães”, muitas vezes, caem no erro de querer tornar as congregações como fonte de recursos e demoram muitos anos para conceder-lhes autonomia administrativa, quando concedem. Não é raro ver-se “igrejas mães” dependentes financeiramente das suas congregações. Algumas dependem delas até para encher seus templos;
4. O uso do rádio e na TV na evangelização
4.1 O medo de induzir os crentes a utilizar mal o rádio e/ou a TV tem feito com que utilizemos muito pouco esses veículos de comunicação;
4.2 A liderança nas Assembleias de Deus é, historicamente, descentralizada. Este fator também limita o uso do rádio e da TV, meios que exigem muito dinheiro;
4.3 Nosso enfoque evangelístico também é diferente do das novas denominações. Não temos necessidade de nos firmar diante da opinião pública.
VI. Louvor
1. Antecedentes históricos
a. Ao fixar suas 95 teses na porta da catedral de Wittemberg, em 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero deflagrou um processo de restauração da igreja ao seu modelo original. A reforma da igreja não foi realizada ali: ela apenas começou;
b. O cântico nas igrejas cristãs era feito em latim, era monótono, formal, sem alegria. Nas igrejas protestantes o cântico é feito no idioma de cada país e incorpora características de suas respectivas culturas;
c. Até 1911 o louvor nas igrejas evangélicas tem fortes características europeias e norte-americanas. A restauração do poder do Espírito Santo nas igrejas trouxe renovação também do louvor. Houve avanços consideráveis no uso de instrumentos não clássicos (violão, pandeiro, triângulo, etc), menos formalidade no cantar e, o mais importante, a incorporação da fé pentecostal aos hinos;
d. Observe-se, na Harpa Cristã: o batismo com o Espírito Santo (87, 437, 478), cura divina (6, 7, 415, 510, 517, 520), evangelismo com apelo (12, 20, etc), edificação com apelo (4, 13, 26, 54, etc), escatologia (2, 48, 123, 125, 323, 442);
e. A alegria do louvor não foi totalmente resgatada entre nós por dois motivos principais. Primeiro, nossa preocupação em não dar argumentos aos que nos comparavam com os financeiros nos fez ter horror às palmas e hinos muito ritmados. Segundo, a associação do lazer à vida mundana baniu do nosso meio qualquer coisa que se parecesse com dança. Note: a preocupação tem razão de ser, mas o zelo acabou sendo excessivo.
2. Em que cremos
a. Nosso louvor deve ser, acima de tudo, agradável a Deus – Sl 51.13-17, Sl 141.2;
b. Mais importante que a qualidade técnica é o conteúdo, o amor e a fé do nosso louvor – Sl 47.7, Sl 63.3-5;
c. Devemos apresentar o nosso louvor com a melhor técnica que nos seja possível – Sl 33.3, Sl 150, Am 6.5;
d. O louvor tem a mesma natureza da oração e da profecia. Deve conter um ou mais dos seguintes elementos: adoração, ações de graça, súplica, edificação espiritual e evangelização. Conferir com os Salmos. Ver também: I Cr 25.1-3, I Co 14.15, Ef 5.19, Cl 3.16;
e. A forma com que gostamos de louvar depende de nossa cultura, idade e estado psicológico – Ex 15.20, II Sm 19.33-36, Sl 42.5;
f. No louvor congregacional precisamos levar em conta a heterogeneidade de gostos dos participantes – I Co 14.26;
g. Num culto congregacional é necessário haver um bom equilíbrio entre louvor e pregação – II Tm 4.2.
3. O que nos preocupa
a. O “louvor” denominado mercantilismo;
b. A transformação de cantores evangélicos em ídolos;
c. A excessiva repetição de determinadas canções, geralmente fracas de conteúdo e às vezes até heréticas, provavelmente para atender interesses comerciais;
d. A substituição da pregação por cânticos sem mensagem;
e. A redução do louvor a mero prazer carnal. Principal sintoma: total desinteresse pelo conteúdo das canções;
VII. Usos e costumes
1. Verdades óbvias e seus fundamentos bíblicos
1.1 As assembleias de Deus sempre primaram pela decência e simplicidade quanto à apresentação física de seus membros – I Tm 2.9,10, I Pe 3.2,3;
1.2 As assembleias de Deus sempre combateram o apego à maneira mundana de viver, a aparência do mal e aos vícios – Rm 12.2, I Ts 5.22, Rm 6.20,22;
1.3 As assembleias de Deus sempre trabalharam em favor da instituição familiar o que inclui; zelo pela pureza sexual dos solteiros e casados – I Co 6.18-20, I Co 7.1-9.
2. Verdades não tão óbvias
2.1 Simplicidade não quer dizer mau gosto. Nossos fundadores usavam bigodes de acordo com a moda e nossas fundadoras usavam “coque” no cabelo, coisas bem modernas à época. Os vestidos longos, mangas compridas e chapéus também estavam na moda – Ez 16.9-13;
2.2 Não podemos (e, muitas vezes, não devemos) andar na vanguarda da moda, mas não podemos ignorar que a maneira das pessoas se apresentarem é determinada pela sociedade e não pela Bíblia. A Bíblia nunca determinou que homens devem ou não usar calças compridas. O que, certamente, se aplica às mulheres. Outros exemplos: pendentes nos narizes das mulheres (Gn 24.47), o anel do filho pródigo, as perucas longas dos homens no começo da Era Industrial;
2.3 O conceito de simplicidade é relativo. Depende da época em que se vive e dos ambientes que se frequentam;
2.4 Por mais que resistamos À ideia, a verdade é que até o conceito de decência é relativo. A genitália do homem e a menstruação da mulher eram coisas tratadas com muita naturalidade em Israel (Js 5.2,3; Lv 15.19), por exemplo. A naturalidade com que encaramos, tratamentos ginecológicos e certos tratamentos a que os próprios homens se submetem, são coisas novas.
3. Problemas
3.1 A preocupação excessiva com coisas exteriores desvia nossa atenção das coisas interiores, muito mais importantes – Mt 23.23,24;
3.2 Jesus morreu combatendo o legalismo. Nós criticamos muito o legalismo de certos segmentos ditos cristãos. E, no entanto, acabamos adotando o legalismo dos usos e costumes;
3.3 Outros perigos: hipocrisia – Mt 23.2-14. Falta de misericórdia – Mt 9.13, Mt 18.6, I Co 8.10-13, Tg 2.13. Perda da própria salvação – Gl 5.1-4.