É possível que o livro do Apocalipse seja o livro da Bíblia menos conhecido, embora seja aquele ao qual mais menção se faz, hoje em dia. É Apocalipse pra cá, é Apocalipse pra lá, e nada de o povo ler o livro.
Dizem que o Apocalipse é um livro muito confuso. Muitas pessoas dizem que o uso intenso da linguagem figurada tem, justamente, o objetivo de manter a mensagem do Apocalipse sempre inteligível, sempre atual. Por exemplo, o ouro sempre foi símbolo de riqueza, de glória, em qualquer tempo. Chifre, em toda a Bíblia, sempre é símbolo de força, seja física, espiritual ou política. Mais um exemplo: animais, ou bestas, representam impérios, governos mundiais, ou os líderes desse governo. É uma simbologia muito utilizada no livro “Veteno-testamentário” de Daniel, onde é claramente interpretada.
Fugir do livro de Apocalipse é fugir de uma bênção. Logo no começo dele, no capítulo primeiro e verso 3, está escrito: “Bem-aventurado aquele que lê, e o que houve as palavras dessa profecia”.
No capítulo 17, há literalmente, um bicho de sete cabeças. Mas, lendo atentamente, se vê que não é tão difícil entender o que esse bicho representa. Dá para perceber que ele é o mesmo que aparece no capítulo 13, onde personifica um governo mundial, centralizado, usuário de alta tecnologia e muito arrogante.
Matada a charada da besta, o que significa a mulher montada nela, no capítulo 17? Os títulos dado a essa mulher não são nada lisonjeiros: “prostituta”; “mãe das prostituições e abominações da terra”. Mas, na verdade, deve ser uma entidade simbólica, já que está montada sobre a besta, que é claramente uma entidade simbólica. Note-se também que se diz dessa mulher que com ela “se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição” (verso 2). E mais “a mulher estava embriagada do sangue dos santos, e do sangue das testemunhas de Jesus” (verso 6).
A mulher é, claramente, um sistema religioso. Um sistema religioso vastamente aceito no mundo, já que a mulher que o representa “está assentada sobre muitas águas” (verso 1º) e “as águas…são povos, e multidões, e nações, e línguas” (verso 15).
Resumindo, a mulher montada sobre a besta representa a associação entre a religião e estado. É uma associação de conveniência que acaba mal. O verso 16 diz que “os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e queimarão no fogo”.
A mulher montada na besta é um quadro sobre o qual é muito oportuno refletir, neste tempo em que o movimento evangélico vai crescendo extraordinariamente no Brasil e nos deparamos com uma situação inteiramente nova para nós. Nada mais justo que esperar que em todas as áreas da vida nacional, inclusive no setor político, haja uma representatividade de evangélicos proporcional à nossa força numérica. Mas, o que é que pretendemos fazer com a força política que formos alcançando? O que marcará nossa presença no mundo político? A atuação de homens e mulheres cujo comportamento reflita os ensinamentos bíblicos quanto a honestidade, amor ao próximo, o sacrifício de interesses pessoais pelo bem da coletividade, ou o oportunismo leviano, a hipocrisia, enfim, o interesse de servir-se da máquina do poder político (montar na besta) para satisfazer interesses próprios ao invés de servir, abençoar à sociedade?
Durante séculos e milênios, servos fiéis de jesus foram maltratados pela mulher que cavalga a besta. Tenhamos cuidado para não acabarmos por nos identificar com aquela mulher infame, para não nos associarmos a ela, para que não nos transformemos na própria.