Brasília, 30 de março de 2008.
Talvez o meu leitor não saiba, mas houve um tempo em que a gente tinha que decorar um bocado de coisas, se quisesse ter boas notas na escola. Havia algumas matérias que bastava “entender”. Porém, outras, talvez a maioria, só se conseguia levar na base da “decoreba”. E muitas das coisas que a gente precisava ter “na ponta da língua”, se quisesse “passar de ano”, nos deixavam com aquela sensação: “pra quê eu preciso saber disso?”. Uma das matérias que a gente mais decorava sem saber pra quê, era a famigerada História do Brasil.
À medida que a gente vai amadurecendo, vai também descobrindo a utilidade das coisas que foi obrigada a aprender na escola, mesmo aquela que nos entraram na cabeça na base da “decoreba”. Ocorre que nós só podemos entender certas coisas depois que as juntamos com outras que ainda não nos chegaram ao conhecimento.
Até o nosso crescimento na fé ajuda o entendimento daquilo que aprendemos na escola secular. Mesmo a própria História do Brasil é melhor compreendida quando colocada sob a perspectiva do evangelho.
Você se lembra da transferência da família real portuguesa para o Brasil? Provavelmente se lembra do episódio, mas havia se esquecido de que ele ocorreu no mês de março de 1808 (eu também havia esquecido, mas fui lembrado desse detalhe através do que a imprensa vem publicando neste mês). Mas você certamente não se esqueceu de que aquele acontecimento mudou a história do nosso país. O Brasil jamais seria o que é hoje se D. João VI não tivesse vindo para cá, transferindo a própria sede do império português para o Rio de Janeiro. Muita coisa mudou profundamente, e para melhorar, em nosso país, em consequência daquilo. Aí você me pergunta: “E o que o Evangelho tem a ver com isso?”. Eu respondo.
Mas, antes, vamos a outro episódio da nossa história que você, provavelmente, só tem lá no fundo da memória, sempre se perguntando; “O que isso está fazendo aí?”. Refiro-me ao episódio denominado de “Invasão Francesa do Brasil”. Lembra? Pois é. Lendo um livro chamado “A História da Evangelização do Brasil”, de autoria do pastor Elben Lenz César, eu descobri, lá pela página 38, que muitos dos tais “invasores” eram protestantes que vieram para as nossas terras em busca de liberdade para servir a Deus de acordo com os ditames de suas consciências, já que lá na França quem não aderia ao Catolicismo Romano era, sistematicamente, assassinado. O livro diz que em 121 de março de 1557 foi celebrada aqui uma Ceia do Senhor. O escritor registra: “Isso quer dizer que entre a primeira missa católica e a primeira celebração eucarística reformada houve um espaço de apenas 57 anos”. Mais adiante somos informados de que no dia 9 de fevereiro de 1558 “o homem forte da França Antártida mandou estrangular e lançar ao mar os quatro signatários de uma confissão de fé reformada: Jean de Bourdel, Matteu Verneuil, Pierre Bourdon e André La Fon”.
Os “invasores franceses” foram as primeiras pessoas mortas pela fé em nosso país. Eu só posso pensar que aqueles nossos irmãos oraram muito em favor do futuro desta nação antes de morrerem.
Agora, voltando a 1808. Se a gente quiser fugir um pouquinho da “decoreba” e ir mais afundo no estudo do assunto, vai descobrir que a família real portuguesa só conseguiu sair de Lisboa porque pôde contar com o apoio do único país que podia enfrentar Napoleão Bonaparte, o causador da fuga: Inglaterra, àquela altura, era um país bem avançado em matéria de liberdade religiosa. A amizade entre Brasil e Inglaterra foi muito vantajosa para o nosso país, do ponto de vista econômico, militar e religioso. Alguém duvida de que tudo teria sido consequência das orações dos primeiros protestantes que morreram por sua fé em nosso país?
Foi assim que eu descobri que no mês de março aconteceram muitas coisas importantes para que nós, os evangélicos de hoje, desfrutássemos de tantas bênçãos aqui no Brasil. E não precisei decorar muita coisa. Só foi preciso juntar as peças.