Brasília, 1 de outubro de 2006.
A estátua que Nabucodonozor viu em sonho tinha os pés “em parte de ferro e em parte de barro” (Daniel 2.33). Entendemos que aquela parte da estátua representa as nações que resultaram do antigo Império Romano, ou seja, as nações líderes do mundo Ocidental dos nossos dias. A respeito dessas nações, Daniel disse: “E, quanto ao que viste dos pés e dos dedos, em parte de barro de oleiro, e em parte de ferro, isso será um reino dividido; contudo haverá nele alguma coisa da firmeza do ferro, pois que viste o ferro misturado com barro de lodo. E como os dedos dos pés eram em parte de ferro e em parte de barro, assim por uma parte o reino será forte, e por outra será frágil” (Daniel 2.41, 42).
A principal característica das nações mais poderosas deste nosso tempo é serem dirigidas democraticamente. O regime democrático é a força e a fraqueza desses países. A democracia é forte e fraca ao mesmo tempo. Ela é ferro e é barro.
Uma pessoa, inimiga de um país democrático, pode entrar nesse país, desfrutar do direito de ir e vir, beneficiar-se da liberdade de expressão, inclusive para falar mal do país publicamente e até trabalhar pela destruição dele. Aí está uma das fraquezas de um regime democrático. Outra fraqueza: o fato de as decisões serem tomadas pela maioria não quer dizer que elas são sempre acertadas. Quando a decisão é errada, não é só quem vota a favor da decisão que sofre: todos sofrem.
Mas a democracia não tem só fraquezas. Ela tem a sua parte de “ferro”. Liberdade de ir e vir, liberdade de expressão, liberdade de crença, tudo isso garantido em lei, sem depender dos caprichos ou dos favores de ninguém, são bens de valor inestimável. Além de já serem bênçãos em si mesmas, elas garantem o aperfeiçoamento do próprio regime. Por exemplo: o ato simples de poder dar uma reunião já nos faz bem. Porém, ao fazê-lo, estaremos dando a nossa contribuição para o bem da coletividade.
Outro aspecto que revela a força da democracia: a sua capacidade de ser aperfeiçoada. Ela, em si, contém dispositivos que permitem a correção de erros, mudanças de rumos, aperfeiçoamento de seus mecanismos de funcionamento. Isso sem rupturas, sem traumas, sem a instalação do caos.
O Brasil é uma nação filha de Portugal que, por sua vez, descende do Império Romano. Somos parte da estátua que Nabucodonozor viu no sonho. Somos ferro e somos barro. Talvez ainda estejamos mais para barro do que para ferro. Sim porque somos uma democracia muito jovem. Ainda estamos aprendendo a viver num regime democrático. E temos muito para aprender. No entanto, na condição de servos do Deus Altíssimo, devemos, mais do que os outros cidadãos, manter uma atitude de boa vontade diante dos percalços que encontramos nesta caminhada rumo ao aperfeiçoamento de nossas instituições. A disposição de utilizar os nossos recursos sobrenaturais para o bem do nosso País deve estar presente, não apenas na época das eleições, ma também em todos os outros momentos. Continuemos orando pelo Brasil. Que ele continue sendo cada vez mais ferro e cada vez menos barro.