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Brasília, 11 de abril de 2004.

SINISTRAMENTE BOM

  A uma pessoa que tem maior habilidade para atuar com a mão direita nós chamamos de “destra”. Pessoa destra. Sim, porque a mão direita é a nossa destra. E a esquerda, qual é o outro nome que tem? Sinistra. Porque sinistro é sinônimo de esquerdo.
  A associação de “ideias” ruins a palavra sinistro se deve ao fato de durante muito tempo, se atribuir o mal à esquerda. Certas pessoas se referem a satanás como o “canhoto”. Isso só reforça a ideia de que o esquerdo, o sinistro, é mau em si mesmo.
  Por ignorância, em muitos lugares os canhotos foram considerados pessoas inferiores e obrigadas a escrever, comer, trabalhar com a mão direita. Felizmente, hoje já não é mais assim. Há um movimento mundial com o objetivo de facilitar a vida dos canhotos e de esclarecer as pessoas a respeito deles. Há inclusive, lojas com artigos só para eles. Numa loja dessas encontrei uma camiseta com os dizeres: “Deus criou uma classe especial de pessoas. As outras são destras”.
  Não vamos dizer que os canhotos são, necessariamente, melhores que os destros. Mas inferiores também não são. Eles são, simplesmente, diferentes.
  Houve, no tempo dos juízes, um grande líder em Israel chamado Eude. O detalhe é que ele era canhoto. Isto está no livro de Juízes, capítulo 3, verso 15: “Então os filhos de Israel chamaram ao Senhor, e o Senhor lhes levantou um libertador, Eude, filho de Gera, benjamita, homem canhoto”.
  Temos algo muito importante a aprender com Eude. Ele soube tirar vantagem de sua aparente inferioridade. Ele sabia que era apenas diferente e não inferior. E veja o que ele fez: “E os filhos de Israel enviaram pela sua mão um presente a Eglom, rei dos moabitas. E Eude fez uma espada de dois fios comprimento de um côvado, e cingiu-a por debaixo dos seus vestidos, à sua coxa direita. E levou aquele presente a Eglom, rei dos moabitas; e era Eglom homem mui gordo. E sucedeu que, acabando de entregar o presente, despediu a gente que trouxera o presente. Porém voltou das imagens de escultura que estão ao pé de Gilgal e disse: tenho uma palavra secreta para ti, ó rei.o qual disse: cala-te. E todos os que lhe assistiam saíram de diante dele. E Eude entrou num cenáculo fresco, que o rei tinha para si só, onde estava assentado, e disse Eude tenho uma palavra de Deus. e levantou-se da cadeira. Então Eude estendeu a mão esquerda e lançou mão da espada da sua coxa direita, e lhe cravou no ventre” (Juízes 3.15-21).
  Eglom e o seu povo, os moabitas, oprimiam Israel durante dezoito anos. Ninguém tinha podido mudar aquela situação. Os moabitas eram terríveis. O verso 29 do mesmo capítulo 3 de Juízes nos informa que o exército deles contava com dez mil homens, “todos corpulentos, e todos os homens valorosos”. Quem se atreveria a enfrentá-los? Eude, o canhoto.
  Eude, em primeiro lugar, acreditou em seu próprio valor. Não se deixou dominar por qualquer complexo de inferioridade. Ele se dispôs a fazer o que nenhuma outra pessoa teve coragem de fazer. Era uma “parada dura”, mas ele resolveu encará-la, com fé em Deus e confiança em si mesmo.
  Eude preparou-se para encontrar-se com Eglom. Veja que ele fez uma espada de dois cortes. Era uma ferramenta adaptada para canhoto. Era algo específico para sua condição física. E colocou a arma do lado direito. Uma pessoa destra põe a arma do lado esquerdo para que a possa desembainhar com a mão direita.
  Ao colocar a espada do lado direito, sob suas vestimentas, o líder canhoto conseguiu duas coisas: facilidade para manusear a arma e tê-la fora da vigilância do adversário. É nesse detalhe, sobretudo que Eude se aproveita do fato de ser diferente das outras pessoas. O adversário inspecionou o lado esquerdo dele, como era comum, mas a arma estava do laod direito.
  Para coroar de êxito todo o seu empreendimento. Eude monta toda uma estratégia para estar a sós com o homem que chefiava as forças opressoras. Ele não usou somente a força bruta. Agiu com inteligência. E tudo deu certo, a cabeça, o comando foi desfeito. Além disso, ganhou-se tempo para arregimentar forças para o combate. Eude venceu.
  Quem age como o homem canhoto de Juízes capítulo 3 vence também. Nada de complexo. Nada de covardia. Nada de ações precipitadas. Com fé, coragem, sabedoria e ação os canhotos vencem. Os destros também. Todos vencem, independentemente de qualquer fator adverso. Às vezes até em consequência de fatores adversos. Amém.