Brasília, 14 de setembro de 2003.
O BOM E O MAU
Jesus foi crucificado junto com dois salteadores: um à sua direita e o outro à esquerda (Mateus 27.38). Um dos salteadores era bom, mas o outro era mau. O homem bom disse a Jesus: “Se tu é o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós” (Lucas 23.39). A consciência dele não o acusava de nada. Ele merecia viver mais, não podia morrer daquele jeito. Ele estava certo. A sociedade é que estava. Tanto estava errada que, ao que tudo indicava, estava crucificando o próprio Cristo. Mas que sorte a do “Bom Salteador”: quando tudo parecia perdido, ele tem a oportunidade de se safar daquela situação, tão incômoda e ainda provar para todos, e até para si mesmo, de que sempre estivera certo.
O “Bom Salteador” terá, mais uma vez, que colocar sua inteligência e sua liderança nata em ação. Se ele se sair bem, até o malfeitor da outra cruz, poderá se salvar. “Vamos, temos que acionar o homem da cruz do meio. Ele está demorando a entrar em ação. Onde estão os seus superpoderes? Alguém tem que desafiá-lo, provocá-lo. Eu o farei. Eu sou bom nisso”. Foi movido por ideias assim que ele se dirigiu a jesus de forma tão resoluta, praticamente dando ordens: “Salva-te a ti mesmo e a nós”.
O outro salteador era mau, era sim. Ele mesmo confessou: “Fomos condenados com justiça, porque os nossos feitos mereciam” (Lucas 23.41). Certamente está aprovado diante do espectro da morte. O que mais o assombra não é o sofrimento da cruz: é a expectativa de entrar no inferno. Os sofrimentos lá, certamente serão muitíssimos piores do que os do momento. E ninguém o pode livrar. Ah, que arrependimento! Se ele pudesse voltar o tempo, desfazer todo mal que praticou! (O mau salteador está chorando baixinho). De vez em quando, dá uma olhada de rabo de olho” para Jesus, o homem da cruz do meio. E quanto mais O observava, mais se conscientizava de que Ele não é uma pessoa comum. Muito menos Ele, Jesus é um malfeitor. Ele tem paz, Ele exala paz. Seus acusadores, os líderes religiosos judeus estão ali, sorrindo, zombando. Os romanos estão ali, arrogantes, prepotentes. Seus amigos estão um tanto afastados, chorando, assustados. Mas, Jesus está tranquilo, comporta-se como o Senhor de toda a situação. Ele é sereno, seguro, comporta-se como um rei. Sim, Ele é Rei. Se ele permitir que lhe tirem a vida, ali, irá para o Reino dos céus. “Ele vai, daqui a pouco, para o céu e eu vou, em seguida para o inferno, pensa o malfeitor”.
De repente, o homem é interrompido em seus pensamentos pelas palavras insolentes do seu companheiro. Seu desespero se torna ainda maior. Se a situação já estava ruim, agora ficou pior. Ele sente que a blasfêmia do colega o afeta também. Desesperado ele repreende o outro: “Tu nem ainda temes a Deus estando na mesma condenação?”, pergunta ele. E já que está falando e estes são os seus momentos finais neste mundo, já que esta é a sua última oportunidade de pedir clemência e a única pessoa que o pode livrar da morte eterna está ali, pregado na cruz do meio, “o mal salteador lhe dirige a palavra humildemente”: “Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino” (Lucas 23.42). Jesus vê naquele homem um caso típico de gente que Ele veio buscar. Certa vez Ele disse: “Eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores ao arrependimento” (Mateus 9.13). E em outra ocasião “O Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 9.10). E porque aquele salteador era mau, era pecador, estava perdido e pediu misericórdia, Jesus lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estará comigo no paraíso” (Lucas 23.43).
O “Bom salteador”, não precisava de perdão, não precisava de salvação. Jesus nem lhe respondeu e ele foi para o inferno.