Brasília, 9 de fevereiro de 2003.
VIVER MORRENDO
Nos tempos do Antigo Testamento os servos de Deus ofereciam-lhe animais em sacrifício. Havia critérios, estabelecidos pelo próprio Senhor, quanto a quem era autorizado a fazer os sacrifícios, que animais poderiam ser oferecidos e como deveriam ser sacrificados e oferecidos.
Há um tipo de sacrifício que eu encontrei apenas em duas passagens bíblicas: Gênesis 15.9 e Jeremias 34.18, 19. Nestes episódios, os animais sacrificados foram divididos ao meio e os ofertantes se colocaram entre essas metades. Há coisas muito interessantes a considerar aqui.
Os sacrifícios de animais, autorizados por Deus, “apontavam” para o sacrifício que Jesus Cristo faria na cruz um dia. Tal como Jesus, os animais eram inocentes, eles não morriam em benefício próprio, morriam em lugar dos seres humanos.
Tão forte era a ideia da substituição que, muitas vezes, a pessoa colocava as mãos na cabeça do animal, como que “se transferindo” para ele (Levítico 1.4).
Nos dois casos mencionados acima, em que os animais foram partidos ao meio, o ofertante caminhava por entre as metades. Eu creio que, aí, a identificação do ofertante com a oferta era mais forte. Mais do que nos outros tipos de sacrifícios de animais, o ofertante estava como que a dizer: “Deus, se fosse apropriado, eu próprio me deixaria matar e queimar, fisicamente, para tua glória. Como não é apropriado vê o sacrifício destes animais como se fosse o de minha própria vida”.
Mas a coisa não ficava somente na intenção. O adorador trazia para sua vida prática a mensagem que havia em suas ofertas. Para todos os efeitos, ele renunciava a qualquer projeto que tivesse para a sua vida e passava a viver, exclusivamente, em função dos projetos de Deus. Exatamente como aconteceu com Abraão. Ele deixou sua própria pátria e o convívio com seus familiares e saiu por aí peregrinando, seguindo as instruções de Deus. Abrão morreu para seus projetos pessoais de vida. Sacrificou tudo para a glória do Senhor.
Conforme eu já disse anteriormente, a pessoa de Jesus estava presente, de maneira simbólica, naqueles sacrifícios antigos. Ele viria morrer, como veio, em lugar dos seres humanos. Ele já havia se disposto a fazer isso desde a fundação do mundo (Apocalipse 13.8).
Jesus é o verbo Eterno de Deus (João 1.1-3). Mais do que se dispor a receber as mãos dos homens sobre a sua cabeça ou se deixar partir ao meio para que nós passeássemos entre suas metades, Ele recebeu um corpo humano. Ele se identificou conosco de maneira absoluta e se ofereceu em sacrifício a Deus Pai em nosso lugar. Glória ao Seu Nome.
Deus o Pai, queria salvar a raça humana. Seu Filho Eterno renunciou a qualquer projeto pessoal seu para fazer a vontade do Pai (Salmo 40.6,7; Hebreus 10.5, 7).
Jesus se identificou conosco e morreu por nós. Agora é necessário que cada um de nós se identifique com Ele para usufruir do que Ele fez na cruz. Ao nos identificar com Cristo, morremos com Ele (Romanos 6.3, 4). Ele renunciou à sua glória para cumprir a vontade do Pai (Filipenses 2.5-8). Agora, renunciamos à direção de nossa própria vida e submetemo-nos inteiramente ao senhorio d’Ele. Isso é o que significa ter Jesus como Senhor e Salvador.
Voltemos ao sacrifício de Abraão no dia em que ele fez um pacto com Deus, conforme registrado em Gênesis 15.5, 18. Era de se esperar que o patriarca, ao renunciar a tudo para cumprir a vontade do seu Deus, se acabasse completamente. Não foi isso o que aconteceu. Rodos os seus contemporâneos desapareceram e foram esquecidos. Quanto a ele, quatro mil anos depois de sua morte, é lembrado e reverenciado. Três grandes povos do mundo moderno o chamam de pai: os árabes, os judeus e os cristãos. A renúncia o levou à glória.
Quanto a Jesus, o apóstolo Paulo diz-nos que, em consequência de ter-se esvaziado a si mesmo, “Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Filipenses 1.9, 11).
Hoje em dia, quem nega-se a si mesmo, toma a sua cruz e segue a Cristo, é que salva a sua vida (Mateus 16.24, 25). Faça isso e seja feliz!