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Brasília, 06 de junho de 1999.

  “Sobe, sobe balãozinho, balãozinho multicor…”
  Balãozinho é a forma carinhosa de se dizer, porque, muitas vezes, eles são enormes. São muito bonitos. Afinal, quem fabrica balão quer que sua obra seja vista. Eles os fazem como verdadeiras obras de arte.
  Os balões compõem o cenário das festas juninas, as festas religiosas através das quais se procura homenagear S. João e outros personagens muito importantes na história da igreja. Sendo profundamente religioso e alegre, o povo brasileiro procura imprimir nas festas juninas, simultaneamente, essas duas características: religiosidade e alegria. AS festas juninas são bonitas. As casas, as ruas, e as vezes, as lojas se enfeitam e, para completar, há uma música bem especial, enchendo todo o ambiente, um tipo de música bem ligada à alma brasileira.
  Alma brasileira. Algo etéreo, inexplicável. Os balões refletem isso. Aquelas chamas que flutuam no ar, contrastando com a escuridão da noite. Fascinante! Fascinante como o espírito humano, oriundo do próprio Deus e permanente envolvido no afã de encontrar seu Criador. Sim, as festas juninas são festas religiosas, festas associadas à sobre naturalidade do ser humano.
  O ser humano é uma criatura muito complexa. Às vezes faz coisas tão mesquinhas, indignas até para animais irracionais. Às vezes é capaz de gestos tão lindos. De expressar amor e solidariedade. Solidariedade que aparece no simples ato de se mandar um balão para o ar. Quando se trata de lançar um balão grande, vai-se precisar da participação de muita gente para se levar a proeza a cabo. Mas, mesmo que ele seja pequeno, lançá-lo sempre será um ato coletivo, envolvendo a participação de familiares, amigos e vizinhos, todos tomados da mesma alegria. A liturgia do lançamento de um balão inclui até o uso de música apropriada que deve ser cantada em coro, como aquela que começa assim “cai, cai balão, cai, cai balão, na rua do sabão…”
  O outro lado da beleza, da alegria aparente, da religiosidade mal orientada e de um egoísmo que suplanta, de longe, todos os pequenos gestos de solidariedade, está ligado justamente, ao “cai, cai balão”.
  Quando o balão cai, pode incendiar uma mata, uma lavoura, uma casa, uma fábrica ou uma refinaria de petróleo. O lindo balão se transforma em cinzas, em cinzas transforma o patrimônio de alguém, pode mutilar deformar e até matar. No balanço final se conclui que a obra de arte e beleza só serviram para desencadear algo tremendamente destrutivo. Como as festas juninas.

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