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ÉTICA CRISTÃ

I. Introdução
  Ética vem do grego éthos, “modo de ser, caráter”.
  Ética é a parte da filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. A ética também pode ser definida como a “ciência da moral”.
  A ética está associada à definição do que é certo e do que é errado, seja de uma maneira geral, seja em relação a uma determinada sociedade. Por exemplo, cada categoria profissional costuma definir seu conjunto de princípios éticos, seu código de ética. Assim, temos a ética médica, a ética os ministros do evangelho (ética ministerial) e assim por diante.
  No livro “ética cristã”, de Paulo Wailler da Silva (Juerp) encontramos as transcrições de algumas definições de ética cristã, duas das quais reproduzimos abaixo.
“  Ciência que trata das origens, princípios e práticas do que é certo e do que é errado à luz das santas Escrituras, em adição à luz da razão da natureza” (L.S. Keyser).
  “A ciência da conduta humana, determinada pela conduta divina” (Emil Brunner).

II. A ética cristã e a Bíblia
  Uma vez que não pode haver cristianismo sem Bíblia (Jo 5:39), a verdadeira ética cristã só pode ser baseada nas escrituras Sagradas. Na verdade, a ética cristã deve ser a prática do que a Bíblia ensina.
  Agora, existem muitos grupos ditos cristãos adotando comportamentos conflitantes entre si. Alguma coisa deve estar errada. Como é que alguém pode adotar um comportamento diante de uma situação, dizendo que o faz porque a Bíblia assim o ordena, e outra pessoa adotar um comportamento completamente diferente, diante da mesma situação, também dizendo que a Bíblia o manda fazer dessa outra maneira? Aqui estão em jogo três importantes fatores:
1. A ignorância: pode ser que uma pessoa não conheça de fato, o que a Bíblia ensina, ainda que pense que sabe;
2. A má interpretação: a pessoa sabe o que a Bíblia diz, mas interpreta errado. Jesus perguntou: “Que está escrito na lei? Como lês?”;
3. A fé. Às vezes a pessoa, intimamente sabe o que é que a Bíblia quer dizer, mas não tem fé o suficiente para se submeter ao que ela diz, então torce as palavras da Bíblia para que elas se adaptem àquilo que a pessoa quer (II Pe 3.16).
  Não foi a toa que Deus usou homens para escrever a Bíblia. “a Bíblia é Deus falando com o homem, é Deus falando através do homem, é Deus falando como homem, mas é sempre Deus falando”. Mas Deus fala através do homem e como homem, para ser bem entendido pelo homem. O essencial para a nossa salvação, para a manutenção e para o crescimento de nossa vida cristã, está claramente exposto nas Escrituras Sagradas. Se fosse diferente, apenas os eruditos poderiam ser verdadeiros cristãos. No entanto, há duas ciências a que podemos e devemos recorrer nas questões de interpretação dos ensinamentos bíblicos: A Exegese e a Hermenêutica Sagrada. Às vezes apresentadas como sinônimos, às vezes reconhecidas de maneira distintas, ambas estão associados aos princípios de interpretação bíblica, por sinal decorrente dos próprios ensinos elementares da Bíblia (Hb 5.12).
  A Bíblia foi escrita para ser vivida (Mt 7.24-27), tem uma mensagem para qualquer tempo e para qualquer circunstância e apresenta seus ensinamentos de maneira bem prática.
  No que diz respeito à ética, há seções e livros da Bíblia que focalizam mais determinados temas. Veja-se, por exemplo, no livro de Provérbios, o que está escrito acerca da caridade para com o próximo (3.28, 11.25 14.31, 17.5, 19.17, 21.13, 22.9, 28.27, 29.7, 31.8, 31.20).
III. A ética e suas abordagens básicas
  De uma maneira geral, há duas maneiras de se encarar a ética: A primeira é com vistas aos fins ou resultados éticos das ações, a segunda enfatiza normas éticas ou princípio para a ação ética. A primeira é chamada de “abordagem teleológica” (de telos, palavra grega que significa fim ou propósito). A segunda é chamada de abordagem “deontológica” (“deon”, significa aquilo que é devido).
  A ética teleológica se preocupa com o dever por amor aos bons resultados. A segunda com o dever por amor ao dever.
  A ética cristã tem por preocupação máxima o cumprimento da vontade de Deus. O Senhor Jesus nos ensinou a orar: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” Mt 6.10. Também está escrito que a vontade de
Deus é “boa, perfeita e agradável” (Rm 12.2). Poder-se-ia, a esta altura, dizer que a ética cristã é eminentemente teleológica. Mas, por outro lado, a vontade de Deus nos é apresentada através dos ensinamentos bíblicos. A vontade de Deus e os princípios bíblicos são inseparáveis. Cumprir o que a Bíblia ensina, é cumprir a vontade de Deus. Resulta em que a ética cristã tem por alvo o cumprimento das normas bíblicas. Olhada por este prisma, a ética cristã seria deontológica.

IV. A ética cristã e sua abrangência
1. Em relação ao indivíduo
  Não raramente, ouvimos alguém dizer a outrem: “Deus abençoe sua vida material e sua vida espiritual”. É como se nós pudéssemos separar a vida do indivíduo em dois departamentos: o material e o espiritual. Biblicamente, isso não existe. Para Deus, cada um de nós é um ser completo: espírito, alma e corpo. O nosso ser por inteiro deve glorificar a Deus (Sl 103.1, I Co 10.31, I Ts 5.23). Um cristão maduro bem consciente de seu papel, é chamado de “homem espiritual” (I Co 2.15, I Co 3.1, Gl 6.1). Se ele é espiritual, tudo nele é espiritual. Tudo converge para fins espirituais.
  Por outro lado, é preciso estar atento para não espiritualizar erroneamente a vida cristã. Espiritualizar erroneamente é ignorar que o ser humano, aqui na terra, tem um corpo material. O indivíduo não é uma alma desencarnada. Sem que o corpo receba o atendimento de suas necessidades básicas, o espírito e a alma dele não podem exercer suas atividades.
  As provisões decorrentes do sacrifício do Calvário são para o ser humano completo: espírito, alma e corpo.
  Outra questão bem relacionada com o tema é a vinculação do homem com a sociedade da qual faz parte. O ser humano é ele e seus relacionamentos: familiar, profissional, cidadania, etc. mude-se o homem, mudar-se-á a sociedade da qual ele faz parte. Mas beneficie-se a sociedade, e beneficiar-se-á o indivíduo. Psicológica e fisicamente, não pode haver um indivíduo bem, em meio a uma sociedade em mal estado. Eticamente, o cristão deve preocupar-se com isso (Tg 2.15, 16, I Jo 3.17).
V. A apresentação da ética na bíblia
  A Bíblia inteira é um código de ética. Daí a necessidade de conhecermos ela por inteiro. Uma vez que a revelação da vontade de Deus ao homem foi progressiva, essa progressão é refletida na própria exposição dos ensinamentos divinos na Bíblia (vejam-se, por exemplo, o caso do divórcio, do amor aos inimigos e da consagração dos bens materiais). Por outro lado, como se disse na seção I, às vezes determinados temas se acham mais concentrados em certas divisões ou livros da Bíblia. Exemplos (livro Ética cristã, de Paulo Wailler da Silva):
a. Levítico 19.9-18 – as exigências de uma vida santa (isto é, de parecermo-nos com o Deus que tem um caráter excelente);
b. Jó 31.1-15, 16-18 ou 29-40. A maior declaração da religião ética do Antigo Testamento;
c. Salmos 15.1-15. Um resumo das exigências de uma religião ética;
d. Isaías 1.10-17. A retidão moral é mais importante que a fidelidade ritual;
e. Amós 5.10-27. O castigo de Deus por causa dos pecados contra o próximo;
f. Miquéias 6.6-15. As exigências básicas da verdadeira religião;
g. Etc.
  À medida que vamos lendo a Bíblia, vamos sendo chamados à atenção para a ocorrência e a continuidade de determinados temas. Pode ser também que já estejamos, de antemão interessados em determinados temas, e simplesmente vamos assinalando ou registrando as passagens bíblicas relacionadas com eles (obs: não existem caixinhas de promessas voltadas para temas éticos). Há, hoje em dia, muitas bíblias com referências cruzadas e que nos ajudam na localização de versículos bíblicos relacionados com temas que se desejem estudar.

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