Brasília, 05 de junho de 2011.
Quando Jesus contou a história do Filho Pródigo, Ele inseriu o diálogo entre o filho mais velho e o pai. E é um diálogo que tem servido para reflexão de muita gente desde aqueles dias até hoje.
Evidentemente, como ovelhas não falam, o Senhor não colocou nenhuma conversa entre as ovelhas e o pastor da “ovelha pródiga”, na parábola da ovelha perdida. Mas eu já ouvi, numa canção evangélica, alguém se referir à ovelha perdida como “a ovelha teimosa”. Então, deixe-me dar asas à imaginação e pensar como seria o diálogo entre uma das ovelhas atrevidas e o pastor do rebanho, tão logo este voltou da arriscada tarefa de buscar a “coleguinha” que se extraviara.
– Quem diria um homem, responsável por cuidar de dezenas de vida preciosas, as abandona e sai por aí, sem se importar com a sorte das que ficaram!
– Mas, Floquinho de Neve, eu conheço as minhas ovelhas e elas me conhecem. Vocês me conhecem o suficiente para saber que eu não me ausentaria do aprisco se não tivesse um bom motivo para isso.
– Não creio que se possa chamar de “bom motivo” a intenção de tentar salvar uma ovelha, deixando noventa e nove a mercê da própria sorte.
– Eu não as deixei a mercê da própria sorte. Deixei-as bem guardadas no aprisco em que sempre se sentiram muito seguras.
– Não lhe ocorreu em nenhum momento que qualquer delas, sentindo sua falta, poderia ir à sua procura, pelo mero desejo de estar ao seu lado ou pela preocupação com a segurança do próprio pastor?
– Sim, claro que, teoricamente, isso poderia acontecer. Mas o pastor de um rebanho em que há ovelhas inteligentes e responsáveis como você, imagina que as mais experientes cuidarão das mais afoitas.
– Afoita não é bem o termo. Ovelhas que se comportam como aquela que você se deu ao trabalho de ir buscar, sabe Deus aonde, pondo em risco sua própria segurança e a das ovelhas que se podem chamar de “normais”, não é só afoita, não. É cretina, egoísta, merecedora de que seja abandonada à própria sorte, para ver se aprende a não agir de maneira tão irresponsável.
– Floquinho de Neve!
– Quer saber mais? Eu não sei se conheço o “meu bom pastor” muito bem, mas aquela má ovelha eu conheço. Ela já vem provocando problemas neste aprisco há muito tempo. É do tipo que merece ser abandonada a própria sorte para que morra devorada por um lobo bem sanguinário ou arrebentada no fundo de um penhasco. E quer saber mais? Eu estou indo embora. Não me procure. Veja se pelo menos uma vez mostra um pouco mais de preocupação com as ovelhas que ficam no aprisco! Já estou indo, fui.
– Floquinho de Neve, Floquinho de Neve, volte aqui. Ai, meu Deus, lá vamos nós para o meio dos espinhos e despenhadeiros!