Brasília, 24 de outubro de 2004.
Certa vez fui procurado por um homem que havia sofrido uma pesada sanção disciplinar de sua igreja. Ele havia sido excluído do grupo de membros e, automaticamente, de todas as funções e cargos que exercia na congregação. O homem chorava como criança, mostrando mais preocupação com sua família do que consigo mesmo; já que sua esposa e filhos não compreendiam o que estava se passando e corriam o risco de se afastarem do Caminho do Senhor. O pior de tudo é que, segundo ele, todo o castigo que lhe estava sendo imposto baseava-se em acusações falsas.
Diante de mim e de mais três pastores, o acusado declarou: “Eu tenho como provar que são falsas as afirmações que me imputam e estou pronto a defender-me diante de quem quer que seja e em qualquer lugar”. Entrei em contato com a pessoa responsável pela aplicação da sanção disciplinar, tentando ajudar à parte mais fraca. A reação foi a prior possível: “O Fulano é um pecador contumaz e para ele não há esperança; além do mais, por uma questão ética, você não deve se envolver neste caso”.
De nada adianta meus argumentos no sentido de que todo acusado tem o direito de se defender. Tive que ajudar o pobre homem através de outros meios. Mas que ajudei, ajudei. O tempo me deu razão. Hoje os dois litigantes são amigos e trabalham juntos outra vez.
O direito universal à defesa da própria Bíblia. Por exemplo, em Deuteronômio 19.15-17 está escrito: “Uma só testemunha contra ninguém se levantará por qualquer iniquidade, ou por qualquer pecado, seja qual for o pecado que pecasse; pela boca de duas testemunhas, ou pela boca de três testemunhas, se estabelecerá o negócio. Quando se levantar testemunha falsa contra alguém, para testificar contra ele acerca de transgressão, então aqueles dois homens que tiveram a demanda, se apresentarão perante o Senhor, diante dos sacerdotes e dos juízes que houver naqueles dias”. Como esta, há várias outras passagens da Bíblia respaldando o direito humano à defesa.
Se há uma coisa que não combina com o cristianismo é julgamento mal feito. Estevão, o primeiro mártir do cristianismo, foi condenado à morte por um tribunal injusto. Em Atos 6:13 está registrado que apresentaram falsas testemunhas contra ele. O apóstolo Paulo também passou por um julgamento irresponsável. Ele protestou porque seus acusadores não tinham provas daquilo de que o acusavam Atos 24:11-13. Quantos cidadãos neste mundo foram condenados, deportados, espoliados de seus bens e mortos com base em acusações falsas, sem uma oportunidade decente de defender-se?
A maior injustiça já cometida neste mundo foi contra o próprio Criador. Quando Deus se fez homem, pessoas que se diziam religiosas, o perseguiam impiedosamente. A oposição foi implacável. Tudo era motivo para que as pessoas o rejeitassem, até mesmo o fato de viver na Galileia.
Certa vez, os líderes da religião judaica encarregaram uns homens de prenderem a Jesus. Além de não cumprirem a missão, aqueles homens afirmaram: “Nunca homem algum falou assim como este homem”. João, o apóstolo, registra em seu Evangelho, no capítulo 6, versos 47 a 52, a seguinte cena: “Responderam-lhes, pois os fariseus: também vós fostes enganados? Creu nele porventura algum dos principais ou dos fariseus? Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita. Nicodemos que era um deles, (o que de noite fora ter com Jesus) disse-lhes: Porventura condena a nossa lei um homem sem primeiro o ouvir e ter conhecimento do que faz? Responderam eles e disseram-lhes: És tu também da Galileia? Examina e verás que da Galileia nenhum profeta surgiu”. Veja o detalhe da referência à Galileia. Então, se nenhum profeta tivesse vindo daquela região, isso justificaria a perseguição contra Jesus? E o pior é que Elias, um dos emissários de Deus de maior destaque na história de Israel, era natural de lá (I Reis 17.1).
Tenhamos muito cuidado com julgamentos precipitados. Peçamos a Deus que nos guarde sempre de condenar quem quer que seja sem dar-lhe a oportunidade de defender-se. Amém.