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Brasília, 13 de junho de 2004.

“E levantarei sobre ti pastores que as apascentem, e nunca mais temerão, nem se assombrarão, e nem uma delas faltará, diz o Senhor” (Jeremias 23.4).

  Certa vez fui convidado para pregar em minha cidade natal, Feira de Santana, Bahia. Ao término de uma das reuniões, fui abordado por uma senhora que me perguntou: “Esta é sua fábrica de doces?”. Ao ver que eu não estava entendendo nada, ela me disse que frequentava a casa dos meus pais quando eu ainda era criança (meu pai era pastor naquela cidade). Quando me perguntavam se eu queria ser pastor quando crescesse, eu respondia que não. O que eu queria ser era dono de uma fábrica de doces.
  Eu não sabia que, uma pessoa pode ser ao mesmo tempo, pastor e fabricante de doces, tal como eu sou hoje.
Ser pastor é cuidar de almas, o bem mais precioso que existe na Terra. O trabalho de um pastor se resume nisto: dar à Palavra de Deus às pessoas. Quando prego num púlpito, quando aconselho alguém no meu gabinete, quando vou a uma residência para dar assistência à família, ou quando visito alguém em um hospital, o que as pessoas esperam de mim é que lhes ministre a Palavra de Deus.
  Ministrar a Palavra de Deus é como fabricar um doce. Deus me dá os elementos básicos, os ingredientes que comporão o produto final. Cabe a mim combiná-los na dosagem certa, adequada a cada situação. Tenho que processar tudo dentro de mim primeiro, como se estivesse levando ao forno ou deixando em banho Maria, dar um toque de arte na apresentação final e servir.  Eu me sinto realizado vendo as pessoas comendo, com prazer os doces que eu faço. O triste é consolado, o angustiado recebe alento, o fraco é fortalecido, o extraviado é trazido de volta ao bom caminho, sim, meus “doces” são saborosos e nutritivos.
  Eu gosto de ser pastor. Gosto de cuidar das ovelhas do Senhor Jesus Cristo. Não que meu trabalho seja destituído de agruras. Sou filho de pastor, convivo com os ossos deste ofício desde a mais tenra idade. Talvez fosse por isso que eu dizia às pessoas que não iria ser pastor quando crescesse.
  Como foi que Deus me encaminhou para ser “fabricante de doces?”. Usando outros fabricantes de doces. Meu pai foi meu primeiro pastor. Certamente ele exerceu forte influência sobre mim. Mas eu me lembro do pastor Antônio Inácio, lá em Goiânia, que costumava incentivar a igreja dizendo: “De quando em vez, demos o nosso glória e o nosso aleluia”.
  Não posso me esquecer do pastor Esdras, que foi meu pastor. Ele cantava bem alto o hino de nº 157 da Harpa Cristã, protegendo o próprio ouvido com a mão direita. O pastor Francolino Rodrigues da Mata que, após 12 anos de convívio, tornou-se meu sogro, marcou para sempre a minha vida com suas ilustrações e comparações tiradas da vida na lavoura. O pastor Manoel da Penha Ribeiro, maquinista aposentado, era dotado de uma sabedoria impressionante e foi quem me confiou os primeiros cargos de liderança na igreja. O pastor Túlio Barros Ferreira me conduziu a um envolvimento mais profundo com a Palavra de Deus e me abriu os olhos para a evangelização do mundo. O pastor Elizeu Menezes de Oliveira, num momento decisivo de minha vida, alertou-me para não ser desobediente à “visão celestial”, apanhou-me como uma pedra bruta, lapidou-me e me fez seu sucessor. Graças a Deus por estes e por tantos outros servos seus que Ele usou para moldar-me e fazer de mim um pastor.
  A Bíblia nos diz (Ef 4.11) que os pastores são dádivas do Senhor Jesus, Sumo Pastor (I Pe 5.4). As ovelhas são dEle, mas Ele nos dá o sublime privilégio de ser seus cooperadores na tarefa de alimentá-las e cuidar desses seres que lhe são tão queridos. Ele apascenta através de nós. Sem Ele, nada podemos. Somos pastores n’Ele, por Ele e para Ele. Ele emana toda a doçura que vence as amarguras e dissabores próprios desta vida. Aos pastores cabe, tão somente, distribuir aquilo que vem d’Ele. Somos ministradores da doçura de Jesus, o meigo Salvador. Somos fabricantes de doces. Amém.

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