Brasília, 07 de março de 2004.
“E Jael saiu ao encontro de Sísera e disse-lhe: Retira-te, senhor meu, retira-te para mim; não temas. Retira-te para a sua tenda; e ela cobriu-o com uma coberta” (Jz 4.18).
Aqui está um versículo que eu não aproveitei quando escrevi um livro comentando os “Não temas” da Bíblia. Não é que eu não vi o versículo, não. É que esse “não temas” foi dito com o objetivo de atrair alguém para uma cilada. Como meu livro tem o objetivo de encorajar as pessoas, tive dificuldade de encaixá-lo naquela obra.
Pois é, Sísera aceitou o convite de Jael foi descansar na tenda dela e, quando dormia, sua hospedeira cravou-lhe uma estaca na fronte. O quadro é chocante: um homem morto, com um pedaço de madeira atravessado na cabeça, colado no chão. Mas o capítulo seguinte, o de número cinco do livro de Juízes, contém um detalhe muito interessante, precisamente no verso 24. Ali Jael, a pessoa que matou o general Sísera, é chamada de “bendita sobre as mulheres” duas vezes. O verso diz assim: “Bendita seja sobre as mulheres JAel, mulher de Héber, o queneu; bendita seja sobre as mulheres nas tendas”.
C omo pode ser bendita entre as mulheres alguém que matou um homem de maneira tão terrível? Ah, sim, no capítulo 4, verso 17. Está escrito que “havia paz entre JAbim, rei de Hazor, e a casa de Heber, o queneu”. Jabim era líder do povo que pertencia Sísera. O general refugiou-se na casa de Jael porque havia um tratado de paz entre o seu povo e aquela família. Mas Jael o pôs para dormir e depois o matou. Mas, mesmo assim, é chamada de “bendita sobre as mulheres”. Como pode ser isso?
Jael amava a Deus de Israel. E, se amava a Deus, amava o povo de Deus. O marido dela fez uma aliança com o inimigo do povo de Deus. Ela não podia concordar com isso. Certamente ele amava a seu marido, Héber, mas amava mais a Deus. Sua lealdade a Deus estava acima da sua lealdade ao marido. Para Jael a fidelidade ao Senhor está acima de todas as coisas. É por isso que ela é bendita sobre as mulheres.
São benditas as mulheres que temem a Deus. Em Provérbios 31.30 está escrito: “Enganosa é a graça e vaidade a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada”. Uma mulher que contraria o marido pra ser leal ao Senhor nunca o fará prejudicando o seu esposo. Agirá com sabedoria e suas ações, ao final beneficiarão o marido. Da mulher virtuosa de Provérbios 31 se diz: “O coração do seu marido está nela confiado e a ela nenhuma fazenda faltará. Ela lhe faz bem, e não mal todos os dias da sua vida” (versos 11 e 12).
Jael matou um homem. Sujou suas mãos com sangue. Mas não podemos nos esquecer de que aquilo era uma guerra. Seria ótimo se não acontecessem guerras no mundo. Mas elas acontecem e quando acontecem temos que lutar para defender nossa Pátria, nossa liberdade, nossos valores. Um dos nossos hinos militares diz: “A paz queremos com fervor. A guerra só nos causa à dor. Porém se a Pátria amada for um dia ultrajada, lutaremos com valor”. Jael matou para defender o povo de Deus. Guerreira decidida, corajosa, bendita sobre as mulheres!
E que dizer do engano, de oferecer abrigo a um soldado fugitivo, esperar que ele durma e então matá-lo? Tática de guerra. De que outra maneira ela, uma mulher frágil, poderia vencer um guerreiro experiente? Desafiá-lo para um duelo seria absurdo. Deixá-lo passar ileso seria inaceitável para ela. Em seu entender aquela era uma oportunidade imperdível. E Jael soube aproveitar o momento. Benditas são as mulheres que não perdem as oportunidades que Deus lhe dá!
O que Jael fez foi contribuir para que fosse desfeita uma opressão que já durava vinte anos (Juízes 4.3). Aqueles opressores estavam acostumados a invadir cidades, destruir riquezas e escravizar pessoas (Juízes 5.29-30). Jael foi uma libertadora. Bendita seja ela sobre as mulheres! Benditas são as mulheres que se dispõem a promover a libertação de pessoas e povos! Amém.