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Brasília, 16 de novembro de 2003.

ECOLOGIA ESPIRITUAL

  Quando eu era estudante de Agronomia, aprendi que o mundo animal é um sistema que tem seus próprios mecanismos de controle. Por exemplo: o número de indivíduos de determinada espécie, em certa área geográfica, é controlado por indivíduos de outras espécies chamados de seus “predadores naturais”.
  A respeito de predadores naturais, ouvi uma estória muito interessante envolvendo gamos e linces. Observando que os linces devoravam os gamos sem dó nem piedade, os moradores de determinada região resolveram sair em defesa dos mais fracos. Só não morreram os linces que fugiram para outras paragens. Os gamos então começaram a multiplicar-se. E multiplicaram-se tanto que a vegetação existente naquela área tornou-se insuficiente para alimentá-los. Aí os gamos começaram a morrer de fome e morreram tantos que, no final, havia muito menos deles do que quando os linces os devoraram.
  Estamos falando de equilíbrio ecológico, um conceito muito badalado na atualidade, mas apresentado na Bíblia, de forma implícita há séculos e milênios.
Eu encontrei o conceito de equilíbrio ecológico nas promessas narrativas referentes à ocupação de Canaã. Ao prometer desocupar a terra para que seu povo a habitasse, Deus disse que tudo seria feito através de um processo gradual. E a explicação está em Deuteronômio 7:22: “E o Senhor teu Deus lançará fora estas gentes pouco a pouco de diante de ti; não poderás destruí-las todas de pronto, para que as feras do campo se não multipliquem contra ti”.
  Chegando em Canaã os israelitas encontraram dois tipos de adversários: animais selvagens e homens. A situação estava em equilíbrio com os homens controlando os animais. A chegada do povo de deus iria produzir um desequilíbrio que tinha que ser bem administrado. Deus, o Criador, sabendo disso, conduziu as coisas da forma que ele sabia ser a melhor. Os moradores de Canaã seriam afastados de maneira gradual para que os animais selvagens não se multiplicassem desordenadamente. Isso é ou não é preocupação com o equilíbrio ecológico?
  No fundo, no fundo, a gente vê a sabedoria de deus ao estabelecer o ritmo de suas intervenções na vida do seu povo. Muitas vezes nós queremos que Deus resolva certas situações mais rapidamente sem saber que ele está “de olho” em todos os fatores que afetam a nossa felicidade como um todo. Deus sabe que se remover determinado obstáculo agora poderá nos trazer um problema maior depois. É melhor confiar em Deus. É melhor esperar no Senhor.
  Para quem não entende de equilíbrio ecológico, os predadores são vilões detestáveis. Para quem entende, eles são úteis, são necessários. Assim é também em nossa vida de um modo geral: há coisas que aparentemente, são ruins, mas que, na verdade, são necessárias. É como se diz: “Ruim com elas, pior sem elas”. Elas podem até ser removidas, mas no tempo certo e da maneira certa.
  Quando estávamos sem Deus, a situação era ruim, mas estava em equilíbrio. Interagíamos de maneira “amigável” com demônios e outras feras que, por sua vez, se entendiam lá entre eles. Quando abraçamos a fé em Jesus um desequilíbrio se estabeleceu. Agora a prioridade é subjugar os demônios. As outras “feras”, mazelas psicológicas, doenças físicas, descontrole financeiro e outros, são dominados gradativamente. Mas a conquista de nossa bênção completa está em marcha.
  A vida cristã tem suas fases e seus níveis de aperfeiçoamento espiritual. Cada mudança de fase, cada avanço, representa alteração no equilíbrio já existente. Quando isto acontece, precisamos estar preparados, para ver certas coisas fora do lugar onde gostaríamos que estivessem. Haverá desconforto, pode ser que haja dor, sofrimento, frustração. Algumas “feras” poderão ficar por aí arreganhando os dentes, produzindo mal cheiro e muito barulho. Mas isso não tem tanta importância: elas estão sob controle e um dia, mais cedo ou mais tarde irão desaparecer. Novas situações de equilíbrio vão se sucedendo até ao dia em que estaremos em nossa Canaã celestial, onde nenhuma fera vai perturbar nossa felicidade.

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