Brasília, 25 de maio de 2003.
PALAVRAS SÃO PALAVRAS
As igrejas evangélicas, principalmente as pentecostais, costumam ter em sua programação semanal uma, duas ou até mais reuniões de oração. Além disso, costumam também ter regularmente noites inteiras destinadas a esse salutar mister: são as famosas “vigílias de oração”.
Hoje em dia procuramos tornar nossas vigílias um pouco menos pesadas, alternando períodos de oração com outros de cânticos e ministrações variadas, podendo até ocorrer intervalos para um cafezinho.
Há algumas décadas, quando as igrejas se encontravam sob o impulso do início do reavivamento pentecostal no Brasil, o esforço pela oração era mais intenso. Dizem os que viveram naquela época que era comum os crentes passarem muitas horas seguidas orando, inclusive durante as madrugadas. E olhe que muitas daquelas pessoas trabalhavam na lavoura e em outras atividades que exigiam muito esforço físico. À noite elas deveriam estar muito cansadas.
Certa vez meu pai, ainda solteiro, participava de uma reunião de oração. Alguns irmãos oravam com muito fervor. Outros, nem tanto. Na alta madrugada, um irmão clamava a Deus: “Senhor, vem encher-nos com o teu poder. Batiza-nos com o teu Espírito Santo. Batiza Senhor”. Outro irmão, ajoelhado ao lado deste, vencido pelo sono, embora lutando heroicamente contra ele, pronuncia em voz alta as seguintes palavras, sem saber o que estava dizendo. “Não batiza não Jesus”.
Muitos anos depois ouvi esse relato de outros irmãos que participaram daquela vigília com meu pai. Eles nunca se esqueceram daquele episódio.
Na Bíblia, no Evangelho segundo escreveu Lucas, há o relato de uma reunião noturna de oração em que algumas pessoas estavam com muito sono (9.28-32). O próprio Jesus estava presente, houve uma manifestação excepcional de sua glória, mas os discípulos mal conseguiam manterem-se acordados. E o apóstolo Pedro acabou fazendo uma sugestão a Jesus “não sabendo o eu dizia”, segundo o relato do Evangelista (verso 33).
Assim é o ser humano: muito frágil. Às vezes cheio de boas intenções, mas sem condições, mesmo físicas, de realizá-las. Ainda bem que Deus é muito compreensivo. O Salmista afirma: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó”. (Sl 103.13, 14).
Já pensou se Deus cobrasse de nós todas as palavras impensadas que dizemos? Ainda bem que ele não o faz!
Nós também precisamos aprender a não levar em conta tudo o que as pessoas dizem e que nos contrariam. Muitas vezes elas nem sabem o que estão dizendo. Outras vezes, vão pensar melhor depois e vão se arrepender. O melhor é perdoá-las.
Observemos as palavras do sábio, contidas em Eclesiastes 7, versos 21 e 22:
“Tampouco apliques o teu coração a todas as palavras que se disserem, para que não venhas a ouvir que o teu servo te amaldiçoa. Porque o teu coração já confessou muitas vezes que tu amaldiçoastes a outros”.