plv0309

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Brasília, 5 de janeiro de 2003.

O TACHO DE COBRE

  Você já experimentou comida feita em tacho de cobre? Eu já. E não gostei.
  No tempo em que eu era solteiro, costumava sair com os jovens da igreja que frequentava para acampar por aí, geralmente às margens de algum rio ou lago. Sempre levávamos alguma comida pronta, sanduíches, farofa, ou coisa assim.
Entre meus colegas de acampamento havia um que, além de tocar violão muito bem, tinha a fama de saber cozinhar. Era o “Totonho”.
  Certo dia, alguém encontrou uma cigana vendendo tachos de cobre e imaginou ter descoberto o meio de termos sempre comida fresca e saborosa em nossos passeios ecológicos. A ideia empolgou a todos e logo, logo estávamos comprando um tacho de cobre com os recursos que levantamos com a colaboração de cada acampante.
  O próximo passeio teve ares de festa. Enquanto todos ajuntavam a lenha com muita alegria, o Totonho assumia pose de chefe de cozinha e declarava: “Vou preparar um casadinho”. “Casadinho”, no caso, seria o resultado o resultado de se cozinhar juntos o arroz, feijão, linguiça e outros ingredientes que havíamos trazido.
  Nadamos, pescamos, jogamos bola e chegamos com aquela fome terrível e uma enorme vontade de experimentar o tal “casadinho”. Ali, sim, que havia fome com vontade de comer. Mas que decepção! A comida tinha gosto de pura fumaça. Que comida horrível!
  Pobre do Totonho. Levou a culpa de tudo, ficou triste, frustrado, arrasado. Mas aí lhe ocorreu um pensamento. A comida ficou ruim, pensou ele, porque o tacho não tinha tampa. Era só dar um jeito de tampá-lo que iríamos ter comida da melhor qualidade. Simples, não?
  Perto de onde estávamos havia algumas bananeiras e, assim, encontramos a solução para o nosso problema. Era só tampar o tacho, com aquelas folhas enormes. Difícil foi esperar mais uma hora pela nova comida.
  Lá pelas cinco da tarde não havia mais fome com vontade de comer. Havia desespero com vontade de comer. Havia desespero com vontade de comer. Mas a espera chegou ao fim. Agora nosso drama iria findar.
  Quando o primeiro “felizardo” experimentou a comida…Ficou com saudades daquilo que jogamos fora na hora de almoço. Meu Deus, como foi que o Totonho conseguiu fazer algo com gosto tão ruim?
  Extremamente mal-humorados, voltamos para casa quase sem dizer nada. Afinal, não tínhamos forças nem pra reclamar. Mas depois, pobre do Totonho. Quantos gracejos teve que aguentar! Durante muito tempo não podia nem ouvir falar de tacho de cobre nem de casadinho.
  Acho que se passaram muitos anos até que nos demos conta de que a culpa não foi do Totonho nem do tacho de cobre. Foi da nossa inexperiência. Tachos de cobre devem ser colocados no fogão com muito pouco fogo. Só isso. Se alguém tenta conseguir comida em menos tempo colocando muito fogo estraga tudo. É como está escrito na Bíblia:
  “Para todo propósito há tempo e modo…” Ec 8.6a

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