I. Comunicação: coisa de Deus
1. Compartilhar Deus
Deus é o único ser autossuficiente. Ele não depende de ninguém para viver. Ele pode fazer sozinho, tudo o que desejar. No entanto, solidão é algo que nunca existiu para Ele.
Quando o Senhor não havia criado nada nem ninguém, já três pessoas viviam e se comunicavam: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Sim, porque Deus é único, mas as pessoas divinas são três e são distintas umas das outras. E as três pessoas divinas se comunicam de uma maneira tão intensa e tão perfeita que se constituem num único Deus Eterno.
Mesmo substituindo em três pessoas que se comunicavam, se amavam e trabalhavam juntas, Deus quis compartilhar aquilo que Ele é e tem, com outras pessoas capazes de apreciar e participar das coisas que Ele fez e faz. Por isso criou anjos e homens.
Comunicar vem de “comum”. Comum é a aglutinação de “como um”. Comunicar é tornar comum as duas ou mais pessoas aquilo que pertencia a apenas uma. Em geral, estamos acostumados à ideia de comunicar apenas informações, mas é possível comunicar outras coisas também. É o que, quando se trata de comunicar bens materiais, espaço físico, etc, costumamos chamar de “compartilhar”. Compartilhar é permitir que outros também tenham parte em algo que possuímos. Compartilhar e comunicar são palavras sinônimas. O termo bíblico original mais ligado a ideias “koinonia”.
Porque existimos? Porque viemos à luz? Porque Deus quis comunicar conosco aquilo que Ele é e tem.
Quando o ser humano ainda não havia pecado, o Senhor vinha pessoalmente ao jardim do Éden para dar-lhe a oportunidade de desfrutar uma comunicação sem reservas. Quando o primeiro casal pecou, a comunicação ficou prejudicada (Gn 3:8). Praticamente, todo antigo testamento é a descrição do desejo e projeto de seus para estabelecer sua comunicação perfeita com o homem. O novo testamento descreve a realização desse projeto.
Em Jesus, o Filho do homem, Deus participou da natureza humana. N’Ele mesmo, Jesus, o Emanuel, Deus compartilhou sua própria presença conosco. Jesus participou de nossa maldição e morte para poder nos dar sua graça e vida.
Pregar o Evangelho é isto: comunicar boas notícias, boas novas. Ocorre que a mensagem do evangelho é sobrenatural e superior a qualquer outro tipo de mensagem.
Alguém pregando o Evangelho, é Deus tomando a iniciativa de estabelecer contato com pessoas humanas perdidas. Quando há boa receptividade à mensagem emitida, desencadeia-se um processo em que Deus vai compartilhando mais e mais de si ao receptor. Amigos, pregar o Evangelho, ministrar a Palavra de Deus ao povo é compartilhar Deus com as pessoas. É dar Deus à alma humana faminta.
2. Que tipo de comunicadores, Deus está “contratando”?
O apóstolo Pedro nos diz que os anjos têm certo interesse na pregação do Evangelho (I Pe 1:12). Que tremendos pregadores os anjos deveriam ser! Um só anjo destruiu, numa única noite, a cento e oitenta r cinco mil homens (II Re 19:35). A pregação de um desses seres celestiais deve dar para converter bem um milhão de pessoas! No entanto, depois de viajar, sabe-se lá quantos milhares de quilômetros, aquele que foi enviado à casa de Cornélio, ao invés de anunciar logo o Evangelho, orientou àquele coração faminto de Deus a que mandasse chamar Pedro que estava em outra cidade. Que há com os anjos? Preguiça?
Antes de mais nada, é necessário que se diga, os seres humanos não aguentam a presença física de um anjo (Dn 10:8-10). Quanto mais pecadora fosse a pessoa, maior deveria ser o problema. Os mais necessitados seriam os menos acessíveis.
Se as pessoas ouvissem o Evangelho pregado por um anjo, provavelmente todas viriam à frente na hora do apelo. Mas quantas o fariam por mero pavor? Com toda certeza, Deus estaria violentando o livre arbítrio com o qual Ele próprio dotou o ser humano. Definitivamente, essa não é uma solução para a pregação do evangelho.
O maior problema, no entanto, não foi apontado até agora. O que um anjo, que nunca pecou, pode entender de perdão, de graça, de misericórdia? Eles podem até ter alguma noção mais jamais poderão saber, como alguém que foi salvo da condenação eterna, o valor e o sabor da salvação. E tem mais: qualquer pecador que ouvisse a mensagem de perdão, pregada por um santo anjo, poderia sentir-se tão indigno a ponto de imaginar que aquilo não se aplicaria à sua pessoa. A melhor demonstração prática da eficácia no Evangelho é o pecador remido que o apregoa. Eis o depoimento de Paulo, o apóstolo:
“E dou graças ao que me tem confortado, a Cristo Jesus Senhor nosso, porque me teve por fiel, pondo-me no ministério; a mim, que dantes, fui blasfemo, e perseguidor, e opressor; mas alcancei misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade. E a graça de nosso Senhor superabundou com a fé e amor que há em Jesus Cristo. Esta é uma palavra fiel, e digna de toda a aceitação, que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas por isso alcancei misericórdia, para que em mim, que sou o principal, Jesus Cristo mostrasse toda a sua longanimidade para exemplo dos que haviam de crer nele para a vida eterna”. (I Tm 1:12-16).
3. Ruídos
Não pregue o Evangelho. Ninguém vai ouvi-lo. Se alguém o ouvir, não vai entender. Se alguém entender, não vai crer. Se alguém crer e o aceitar, não vai permanecer. Se alguém permanecer, vai dar um trabalho…Ai que desânimo.
Na parábola do semeador, que Jesus contou, perdeu-se toda a semente de três áreas das quatro que forem semeadas.
O problema é que, num processo de comunicação, existe um emissor, uma mensagem, um transmissor e um receptor. No caso do Evangelho, o emissor é Deus. Ele é bom e poderoso. A mensagem é a palavra de Deus. Ela é viva e eficaz. O problema está no receptor que, muitas vezes, está em péssimas condições, às vezes até “desligado”. Mas Deus quer se comunicar com todos, inclusive com os que estão no pior estado.
A comunicação do Evangelho tem uma particularidade muito interessante: o Transmissor faz parte do emissor e é também receptor. Quanto mais ele se identifica com o Emissor, mais eficiente ele será na transmissão da mensagem. Quanto mais ele incorpora as características do Receptor (rebeldia, desamor, etc) mais difícil fica a comunicação.
Tudo o que atrapalha um processo de comunicação é chamado de “ruído”. O termo se aplica não só aos fatores externos, como também a fatores intrínsecos do emissor, do transmissor e do receptor.
Há alguém que vive produzindo ruído nos processos de comunicação do Evangelho. Ao emissor ele não pode atingir, mas ao transmissor, ao receptor e ao ambiente em volta, ele pode. Precisamos estar alertas. Precisamos nos achegar mais e mais ao emissor da mensagem que transmitimos, de maneira a poder anular toda a espécie de ruído, a começar pelas que existem dentro de nós mesmos.
Lembremo-nos de que a parábola do Semeador, a parte que produziu frutos chegou a 10.000% (isto mesmo, dez mil por cento). O saldo é sempre positivo, quando nos deixamos gastar pela Obra do Senhor.
4. Encarnação
Deus devia facilitar as coisas para nós. Será que Ele não sabe que dificuldades financeiras, problemas familiares, doenças, tudo isso prejudica o trabalho que queremos fazer para Ele mesmo? Por que Ele não “limpa a área” para a gente trabalhar?
Em primeiro lugar, como já dissemos. Deus quer usar pessoas humanas para alcançar pessoas humanas. Se Ele nos isolasse de todos os problemas que afetam aos nossos semelhantes, então já não seríamos pessoas tão humanas assim. Para nos alcançar, Jesus viveu dentro de um corpo como o nosso, morou em nossas cidades, caminhou por nossas estradas, sofreu nossa sede, padeceu a fome que nos acomete, foi maltratado pelas nossas dores e até passou pela morte. Ele teve que vir do céu para a terra. Tudo o que temos de fazer é continuar na terra (por um pouco tempo), vivendo os problemas daqui enquanto trabalhamos para que outros também conheçam a Deus.
Outra razão pela qual continuamos sujeitos ao sofrimento, mesmo depois que nos tornamos comunicadores da Palavra de Deus, geralmente até mais sujeitos do que antes, é que nossas lutas contribuem para o nosso crescimento. O apóstolo Paulo orou três vezes para ficar livre de um determinado problema e tudo o que conseguiu foi ouvir Jesus dizer: “A minha graça te basta” (II Co 12:7-9). A razão, o próprio apóstolo explicou: “para que não exaltasse pelas excelências das revelações”. Um pregador arrogante não serve para nada.
5. Médico cura-te a ti mesmo
A Palavra de Deus é “mais penetrante do que espada alguma de dois gumes” (Hb 4:12). Quando a mensagem que pregamos está baseada nela, esse poder cortante está presente.
Uma espada de dois gumes corta para a direita e para a esquerda. Corta para frente e para trás.
Uma mensagem genuinamente bíblica é uma mensagem equilibrada. É imparcial. É impessoal (do ponto de vista do pregador). Quando a mensagem vem de Deus, ela atinge até mesmo ao pregador. Também nesse sentido o transmissor é receptor. Ele é receptor porque é atingido pela mensagem que o impulsiona a testemunhar e é receptor porque a mensagem que transmite transforma o seu próprio ser.
Quanto mais submisso ao Espírito Santo for o pregador, mais suscetível de ser atingido (e abençoado) pela própria mensagem que prega ele será. Essa submissão tanto deve ser no sentido de transmitir o que o Espírito Santo quiser que transmitamos, como no sentido de estar disposto a pregar quando, onde e quantas vezes o Senhor quiser. O pregador só tem a ganhar com isso.